quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Sobre a Teoria dos Conjuntos fuzzy de Saúde-Doença

A proposta de incorporar a Lógica Fuzzy no campo da saúde nos parece um dos desfechos prováveis.

Quando pensamos em atuações relativas ao complexo saúde-doença-cuidado, a pergunta é exatamente onde atuar. Sim, porque o percurso de reconstrução epistemológico feito até agora, que nos localiza no terreno das incertezas, nos leva a crer por um momento sobre o melhor "lugar" (dimensão) para atuar, visto que estamos diante de diversos níveis de determinação correlacionados.

A Lógica Fuzzy, no entanto, nos ajuda a superar as noções "completamente verdadeiro" e "completamente falso" e nos oferece a opção de diversos graus de verdade. Assumimos a noção de graus de pertinência e podemos, dessa forma, conceber a "rede de redes" operando (processos de patogênese e de salutogênese em níveis distintos e que interagem) e pensar em formas estruturadas de atuação.

"Esforços interdisciplinares destinados à produção de modelos sintéticos devem ser usados para construir um objeto complexo, como uma referência para os processos concretos da realidade de saúde" (Almeida-filho). Ao que entendemos, a proposta não é reunir esforços para a ampliação das estratégias de redução de prevalência ou de incidência, mas de uma mudança ampla nos pontos entendidos como significativamente atuantes nas redes de processos de sobredeterminação, o que é maior.

Isso é intrigante, se pensarmos que estamos voltando às perguntas fundamentais de outras formas. "O que é saúde?", "O que é doença?", "O que é a vida?", provocam agora a necessidade de elevar a tensão ao máximo para tentarmos superar o problema histórico da fragmentação.

Não estamos plenamente certos disso, mas isso faz muito sentido...

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Sobre teorias restritas para embasar uma Teoria Geral da Saúde


De acordo com os argumentos apresentados nas aulas, chegamos à conclusão (provisória?) de que uma Teoria Geral da Saúde não torna desnecessária uma teoria restrita de Doença-Enfermidade. Ao menos na proposta de Teoria Geral (TG) apresentada. Isso porque essa teoria restrita (a holopatogênese) é que estabeleceria as regras/bases, por assim dizer, semântico-conceituais, gramaticais (de regras lógicas), topológicas (de hierarquia) e causais (mas não baseada no causalismo) a serem utilizadas em uma teoria geral.

Entretanto, embora concorde com o raciocínio exposto, acredito que é possível a construção de outras bases para uma TG da Saúde, ao menos complementares às apresentadas. Assim, parece-me que essa TG poderia se basear em uma teoria (restrita?) do ser humano (ou do sujeito, do indivíduo...). Uma teoria que apresentasse, aí sim, as múltiplas dimensões do humano, e como essas dimensões relacionam-se em "funcionamentos" "normais" ou não. Daí poderiam derivar as origens humanas (por assim dizer) das doenças-enfermidades e dos mecanismos de resistência-defesa - complementares à holopatogênese já referida -, mas também as origens de uma Grande Saúde (nos termos de Nietzsche), uma saúde além da negação da doença.

(O problema me parece, aqui, do risco de uma metafísica pouco "útil" para o "cotidiano da teoria" e seus desdobramentos metodológicos...)

A partir dessa outra abordagem, por exemplo, um axioma que afirmasse a existência ontológica do ser (sujeito) seria óbvio, ao invés do relativo mal-estar relacionado à existência ontológica da doença-enfermidade (base para a holopatogênese).

Talvez uma TG assim baseada fosse mais potente para a exploração de conceitos-sentidos mais positivos de saúde, e auxiliasse com maior “fluidez” ou simplicidade a construção dos “modos de andar a vida” tratados por Canguilhem. E, em especial, talvez apresentasse maior concretude e instrumentalização à prática em saúde, aos “modos-de-fazer”, ao ato de cuidar, à produção de respostas, para além das análises de situação, produção de conhecimento e crítica das produções já existentes.

Nesse caso, talvez fosse possível abrir mão de uma teoria restrita da doença-enfermidade, que poderia estar incorporada a essa “teoria do ser”.

A questão que parece restar é: será viável (e desejável) a construção de uma Teoria Geral da Saúde sobre essas (outras/novas) bases?

domingo, 18 de dezembro de 2011

Fatores biológicos[borrosidade]sociais[borrosidade]psicológicos[borrosidade]culturais[borrosidade]...= saúde-doença

Por: FRANKLIN DEMÉTRIO


No capítulo do livro intitulado Holopatogênese: esboço de uma teoria geral de saúde-doença como base para a promoção da saúde, Almeida-Filho discute o objeto saúde-doença trazendo referenciais epistemológicos e conceitos teórico-metodológicos em torno da proposta de uma abordagem que ele denomina de holopatogênese. Segundo Almeida-Filho, 'holopatogênese' pode ser entendida como o conjunto de processos de determinação (genesis) de doenças e condições relacionadas (pathos) tomadas como um todo integral (holos), envolvendo todas as facetas, manifestações e expressões do objeto complexo saúde-doença. Este autor explicita ainda que o conceito de holopatogênese deve ser interpretado como um tipo especial de objeto-modelo heurístico, que opera em diferentes níveis hierárquicos de complexidade, concomitantemente dependente de substrato ontológico e simbólico.
Nesse perspectiva, observo que o objeto de conhecimento dos subcampos disciplinares que compõem o campo da saúde operam inadequadamente o conceito saúde-doença na medida em que este é reduzido à compreensão de 'saúde como ausência de doença ou vice versa'. É in-coerente pensar em uma desarticulação entre o elemento biológico e os fatores sociais, demográficos, culturais, econômicos, ecológicos e políticos, sobretudo, quando se pretende uma análise totalizadora e respeitosa da complexidade dos fenômenos da vida, saúde, doença, dor, sofrimento e morte. Diante dessa problemática, a noção de holopatogênese propõe a integração entre a tecnociência e a vida, ou seja, que todos esses fatores, ora mencionados (pensar numa perspectiva fluída, não dogmática e ampliada...entender que se trata de uma noção que não se fecha [divergente], pois novos fatores poderão surgir [e surgirão!!] e serem acoplados [nos termos de Almeida-Filho, "acoplamento estrutural"] no condicionamento/determinação da saúde e da doença), devem ser integrados na construção do objeto doença-saúde.
Concluindo, penso que uma construção linear do objeto saúde-doença (a exemplo: saúde como ausência de doença) não dá (e não vem dando) conta das demandas e expectativas em saúde-doença, pois estas não são estáticas. Pelo contrário, são geradas por sujeitos dinâmicos, e estes, por sua vez, são interativos, ativos e (re)ativos em consonância com o texto/(con)texto em que vivem e ao espaço/tempo em que habitam (inclusive a própria pele). De modo antagônico, são as estruturas estruturantes da noção negativa de saúde-doença (estas são rígidas, controladoras, restritas e restritivas). Deixo aqui a minha provocação impregnada de "borrosidade".

A imagem aqui postada é uma 'tentativa borrosa' para um pensar sobre a complexidade que é o objeto saúde-doença.

Referência:

- Almeida-Filho N. Holopatogênese: esboço de uma teoria geral de saúde-doença como base para a promoção da saúde. In: Czeresnia D. Promoção da saúde: conceitos, reflexões, tendência. Rio de Janeiro: editora Fiocruz; 2003.