De acordo com os argumentos
apresentados nas aulas, chegamos à conclusão (provisória?) de que uma Teoria
Geral da Saúde não torna desnecessária uma teoria restrita de
Doença-Enfermidade. Ao menos na proposta de Teoria Geral (TG) apresentada. Isso
porque essa teoria restrita (a holopatogênese) é que estabeleceria as
regras/bases, por assim dizer, semântico-conceituais, gramaticais (de regras
lógicas), topológicas (de hierarquia) e causais (mas não baseada no causalismo)
a serem utilizadas em uma teoria geral.
Entretanto, embora concorde com o
raciocínio exposto, acredito que é possível a construção de outras bases para
uma TG da Saúde, ao menos complementares às apresentadas. Assim,
parece-me que essa TG poderia se basear em uma teoria (restrita?) do ser humano
(ou do sujeito, do indivíduo...). Uma teoria que apresentasse, aí sim, as
múltiplas dimensões do humano, e como essas dimensões relacionam-se em
"funcionamentos" "normais" ou não. Daí poderiam derivar as origens
humanas (por assim dizer) das doenças-enfermidades e dos mecanismos de resistência-defesa - complementares à
holopatogênese já referida -, mas também as origens de uma Grande Saúde (nos
termos de Nietzsche), uma saúde além da negação da doença.
(O problema me parece, aqui, do
risco de uma metafísica pouco "útil" para o "cotidiano da
teoria" e seus desdobramentos metodológicos...)
A partir dessa outra abordagem,
por exemplo, um axioma que afirmasse a existência ontológica do ser (sujeito)
seria óbvio, ao invés do relativo mal-estar relacionado à existência ontológica
da doença-enfermidade (base para a holopatogênese).
Talvez uma TG assim baseada fosse
mais potente para a exploração de conceitos-sentidos mais positivos de saúde, e
auxiliasse com maior “fluidez” ou simplicidade a construção dos “modos de andar
a vida” tratados por Canguilhem. E, em especial, talvez apresentasse maior
concretude e instrumentalização à prática em saúde, aos “modos-de-fazer”, ao
ato de cuidar, à produção de respostas, para além das análises de situação,
produção de conhecimento e crítica das produções já existentes.
Nesse caso, talvez fosse possível
abrir mão de uma teoria restrita da doença-enfermidade, que poderia estar
incorporada a essa “teoria do ser”.
A questão que parece restar é:
será viável (e desejável) a construção de uma Teoria Geral da Saúde sobre essas
(outras/novas) bases?
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEstevão, os seus comentários e reflexões são oportunos e pertinentes para o contexto da discussão sobre uma Teoria geral da saúde (TGS). No entanto, discordo dos seus argumentos quando diz: "O problema me parece, aqui, do risco de uma metafísica pouco "útil" para o "cotidiano da teoria" e seus desdobramentos metodológicos..." Aqui entendo conforme Nietzsche: não dá para pensar em um dualismo metafísico no tratamento e compreensão da saúde-doença, pois há inumeráveis saúdes e inumeráveis doenças. Nesse sentido, penso que toda e qualquer abordagem metafísica terá sua utilidade para uma construção teórica acerca da saúde-doença. Recorrendo ao texto de Almeida-Filho & Paim "Saúde como campo de práticas e como paradigma" não podemos esquecer que a práxis é o lócus da cotidianidade da saúde-doença (é na práxis que ocorrem os encontros e os diálogos entre os profissionais de saúde e os sujeitos que buscam o cuidado) não só de "aplicação de conhecimentos teóricos", mas de uma dialética entre esses conhecimentos e o saber prático, e o desdobramento de técnicas e métodos. Seguindo nessa lógica, vislumbro o exercício de construção de uma TGS como um processo que abarque o acoplamento de vários elementos estruturantes, sejam eles dos campos social, filosófico, econômico, biológico, antropológico, ecológico e político e aqueles do campo de práticas.
ResponderExcluirFranklin Demétrio
Ok! Entendi, então, que você concorda com a possibilidade de uma Teoria Geral da Saúde ser baseada em algo diferente (complementar ou substitutivo) de uma teoria restrita de doença/enfermidade (a holopatogêse), certo? E que, sendo assim, a princípio, concorda com a possibilidade desse "algo diferente" ser uma teoria (restrita?) do ser (sujeito, humano...). É isso?
ResponderExcluirIsso!
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